Os sambas enredos explicam o mundo: possibilidades pedagógicas dos enredos no ensino de história
Resumo
Este artigo propõe uma discussão sobre a importância do samba-enredo como instrumento pedagógico de decolonização do ensino de história. A abordagem revela como ele proporciona uma construção compartilhada do saber histórico, sendo fruto tanto do aprendizado institucional quanto da memória compartilhada nas comunidades. Por meio de suas letras, o samba-enredo expressa a resistência de comunidades excluídas pelo colonialismo, compartilhando saberes específicos de determinados grupos e sendo ele próprio um espaço de expressão da memória, da consciência social e da cultura afrobrasileira. A discussão relaciona o samba-enredo ao pensamento decolonial, particularmente às reflexões de Frantz Fanon, Paulo Freire e Boaventura de Sousa Santos, mostrando como ele fortalece o ensino de história compartilhada, multissituada e decolonial. A experiência compartilhada na Escola Estadual José de Souza Marques revela como o samba-enredo proporciona uma educação transformadora, compartilhando saberes específicos de comunidades historicamente excluídas e sendo ele sujeito de sua história.
Palavras-chave
Ensino de história, Samba-enredo, Decolonização, Memória compartilhada, Comunidades Afro-Brasileiras
Biografia do Autor
Luiza Sarraff
Mestra e doutora em História pelo Programa de de Pós Graduação em História Social da UERJ/FFP. Atualmente, se encontra em estágio pós doutoral junto a UDESC e faz parte do grupo de pesquisas Leehpac.
Arthur Dupim
Graduado em História pela UERJ/FFP, mediador no Museu de Arte do Rio (MAR) e membro do grupo de pesquisa Dimensões do Regime Vargas e seus Desdobramentos (UERJ/CNPq).
Lucas Silva
Graduando em História pela UERJ/FFP, membro do grupo de pesquisa Sambavivências e membro do grupo de pesquisa Folias, Congos e Cucumbis: Coroações de Reis e Carnaval no Pós-Abolição, 1889-1930 (UERJ/CNPq).
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