A criação da Guanabara e a cidadania carioca como um “estado de espírito”
Resumo
Esse artigo tem por objetivo refletir sobre a criação da cidade-estado da Guanabara como uma “comunidade imaginada”, a partir do deslocamento do seu tradicional estatuto de capital federal, com a inauguração de Brasília, em 1960. Nesse contexto, vamos abordar o surgimento de uma “cultura do carioquismo”, definida como um movimento bairrista e regionalista de valorização das coisas do Rio, bem como identificar os atores envolvidos no processo de “enquadramento da memória” carioca. Ressaltamos a atuação de Carlos Lacerda na liderança desse empreendimento simbólico como estratégia política, e o papel fundamental da imprensa e da crônica, com destaque para o cronista Sérgio Porto e o poeta Vinícius de Moraes, autor da máxima “carioca é um estado de espírito”. Desejamos problematizar a construção de um tipo ideal de carioca no momento de criação da Guanabara, em sua intrincada relação entre memória e história.
Palavras-chave
Guanabara, Crônica, Carioca
Biografia do Autor
Cláudia Mesquita
Doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Salgado de Oliveira.
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