Pequenas Áfricas no Rio de Janeiro: por uma cartografia musical da cidade
Resumo
No período pós-abolição, a música produzida pelas comunidades negras tornouse um dos mais importantes vetores de resistência e afirmação cultural no Brasil. Diante da marginalização social e da exclusão de direitos, homens negros e mulheres negras e encontraram na música uma forma de expressar memórias, religiosidades, experiências e identidades. A música ecoava dos quintais, morros e ruas, articulando redes de sociabilidade, organização comunitária e regimes raciais, preservando elementos das matrizes africanas e criando novas linguagens urbanas. Instrumento de luta simbólica e ocupação de espaços públicos, ao longo do século XX, ela se consolidou junto às “Pequenas Áfricas”, em uma relação articulada e articuladora do território. Assim, a música negra não só sobreviveu, como moldou a cultura brasileira.
Palavras-chave
Música, Território, Cultura
Biografia do Autor
Angélica Ferrarez
Professora da Escola Vera Cruz (SP), é co-curadora da exposição Pequenas Áfricas no Instituto Moreira Salles e integra o grupo de curadoria da Festa Literária das Periferias (FLUP). Pesquisadora da história social do samba e do Rio de Janeiro, participa também do júri do Estandarte de Ouro do Carnaval carioca. Realizou pósdoutorado em Sociologia Política pela UENF, com o projeto Arte Urbana na Zona Portuária, possui doutorado em História Política pela UERJ e mestrado em História Social da Cultura pela PUC-Rio. É roteirista da série documental Música e Silêncio e atua como consultora para diversas instituições culturais.
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