Patrimônios insubmissos: o reconhecimento de territórios negros nas políticas de preservação, um olhar para MadureiraRJ
Resumo
A partir de uma análise socioespacial este artigo debate a formação territorial de Madureira e seu reconhecimento enquanto território negro frente as políticas de preservação do patrimônio urbano. Madureira está localizado na zona norte, subúrbio do Rio de Janeiro, sua trajetória desde a antiga fazenda da Freguesia de Irajá à condição contemporânea de território negro, marcado pela identidade cultural afro-brasileira. A investigação parte da perspectiva de que os territórios negros não são apenas espaços geográficos, mas construções sociais e políticas forjadas por processos de r-existência, memória e sociabilidades, que podem ser visualizadas a partir dos patrimônios urbanos inseridos nos territórios. O estudo evidencia como a memória, a cultura e o patrimônio afrobrasileiro estruturam dinâmicas territoriais que desafiam a lógica hegemônica de ordenamento das cidades. Argumenta-se que a ausência de instrumentos adequados de preservação e reconhecimento desses territórios reflete uma racionalidade urbana eurocentrada que não leva em conta a diversidade cultural existente, considerando as formas específicas de produção do espaço protagonizadas por populações negras. Ao reconhecer o papel do patrimônio como tecnologia política de organização territorial e de afirmação identitária, o artigo propõe uma abordagem para pensar outras políticas de preservação, inclusive de pensar os territórios negros enquanto sítios histórico urbanos que devem ser inseridos em políticas de preservação patrimoniais e no planejamento urbano.
Palavras-chave
Territórios Negros, Patrimônios Urbanos, Memória
Biografia do Autor
Alyne Fernanda Cardoso Reis
Arquiteta e urbanista, mestra em Patrimônio, Cultura e Sociedade (UFRRJ) e doutoranda em Arquitetura e Urbanismo (UFBA).
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