Dos tachos a céu aberto às mesas cariocas: o receituário das quitandeiras oitocentistas e as confluências no receituário da comida cotidiana na cidade do Rio de Janeiro entre 1870 e 1930
Resumo
Por estas linhas pretendemos apresentar e compreender como as refeições praticadas nas ruas oitocentistas cariocas, por meio das elaborações diaspóricas das mulheres negras cozinheiras e quitandeiras, com as suas expertises no chão de cozinha e enfrentamentos sociorraciais, contribuíram para uma concepção de culinária carioca. Como parte de uma pesquisa em andamento, a partir dos jornais e revistas da cidade do Rio de Janeiro, entre 1870 e 1930, buscamos investigar e analisar as notificações das práticas alimentares de rua e a incidência deste receituário em anúncios de restaurantes, publicações de menus e sessões de receitas nos periódicos disponíveis na Hemeroteca Digital, de forma a conectar os saberes da cozinha diaspórica de rua a um receituário formal proposto por agentes hegemônicos, como os jornais e restaurantes. Neste caminho, intencionamos ampliar os estudos sobre a formação da culinária típica carioca a partir dos fazeres e conhecimentos de sujeitas históricas produtoras de culturas culinárias e memórias sociais na cidade do Rio de Janeiro.
Palavras-chave
História, cultura alimentar, diáspora
Biografia do Autor
Cristina Antunes Divano Cunha
Historiadora formada pela Universidade Veiga de Almeida (UVA/RJ), mestre em Relações Étnico-Raciais pelo CEFET/RJ, doutoranda em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduanda em Arqueologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Referências
- AMON, Denise, MENASCHE, Renata. Comida como narrativa da memória social. Sociedade e Cultura, v.11, n.1, p. 13-21, jan./jun. 2008. DOI: https://doi.org/10.5216/sec.v11i1.4467
- BABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
- BARROS, José D’Assunção. O jornal como fonte histórica. Petrópolis: Editora Vozes, 2023.
- BRAGA, Isabel M. R. Mendes Drumond. Do primeiro almoço à ceia: Estudos de História da Alimentação. Sintra: Colares Editora, 2003.
- CARNEIRO, Henrique. Comida e sociedade: uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Elsivier, 2003.
- CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1967.
- Cozinheiro Imperial. 10 edição. Rio de Janeiro: Ed. Laemmert & C, 1887.
- EL-KAREH, Almir Chaiban, BRUIT, Héctor Hérnan. Cozinhar e comer, em casa e na rua: culinária e gastronomia na corte do Império do Brasil. Estudos Históricos, n.33, p.76-96, jan./jun. 2004.
- FRAGA FILHO, Walter. Encruzilhadas da liberdade: histórias de escravos e libertos na Bahia (1870–1910). Campinas: Editora da Unicamp, 2014.
- FREITAS, Fernando Vieria de. As negras quitandeiras no Rio de Janeiro do século XIX pré-republicano: modernização urbana e conflito em torno do pequeno comércio de rua. Tempos Históricos, v. 20, n. 1, p. 189–217, 2016.
- HARTEMANN, Gabby Omoni. Escavando a violência colonial: Arqueologia griótica e engajamento comunitário na Guiana. Cadernos do Lepaarq, vol. XIX, n.37, p.142 – 191, jan./jun, 2022. DOI: https://doi.org/10.15210/LEPAARQ.V19I37.23018
- MINTZ, Sidney W. O poder amargo do açúcar. Tradução de Maria Lucia Montes. São Paulo: Brasiliense, 1987.
- MINTZ, Sidney W. Sabor a comida. Sabor a liberdad: incursiones em la comida, la cultura y el passado. México: Ediciones de la Reina Roja, 2003.
- NASCIMENTO, Beatriz. Uma história feita por nós: Relações raciais, quilombos e movimentos. In RATTS, Alex (org.). Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2021.
- SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. A alimentação e seu lugar na História: Os tempos da memória gustativa. História: Questões e debates, n.42, p.11-31, 2005. DOI: https://doi.org/10.5380/his.v42i0.4643
- SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Os zungus do Valongo. In SANCHES, Monica (org.) Pretos novos do Valongo: escravidão e herança africana no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Bazar do Tempo, 2024.
- WOORTMANN, Klaas. A comida, a família e a construção do gênero feminino. Revista de Ciências sociais, vol.29, n.1, p. 103-130, 1986.