Presença e atuação indígena na cidade do Rio de Janeiro colonial: das origens ao século XIX
Resumo
Diferentes povos indígenas participaram intensamente das guerras de conquista da Guanabara que levaram à criação da cidade do Rio de Janeiro e da capitania do mesmo nome. Vencida a guerra, Mem de Sá pediu a Araribóia (líder de seus aliados nativos, então chamados Temiminó) que ali ficasse com seus índios para garantir a defesa da cidade. Foi criada a aldeia de Martinho que, alguns anos depois, seria transferida para o outro lado da baía, nas terras que haviam sido doadas em sesmaria a Araribóia. Ali foi fundada a aldeia de São Lourenço, que se tornou importante baluarte de defesa da cidade. Seus habitantes indígenas, somados aos de outras aldeias criadas posteriormente na capitania, seguiriam, até o século XIX, prestando importantes serviços à cidade. Em abordagem histórico-antropológica, o artigo enfoca os povos indígenas em suas complexas e fluidas relações entre si e com os europeus, procurando identificar seus próprios interesses nas situações de contato e analisar suas reelaborações identitárias e culturais, evidenciando sua significativa presença e atuação na cidade do Rio de Janeiro.
Palavras-chave
Guerras indígenas, Rio de Janeiro, Trabalho indígena
Biografia do Autor
Maria Regina Celestino de Almeida
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Referências
- ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses Indígenas. Identidade e Cultura nas Aldeias Coloniais do Rio de Janeiro. 2ª ed., Rio de Janeiro: FGV, 2013.
- ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Política Indigenista e Etnicidade: estratégias indígenas no processo de extinção das aldeias do Rio de Janeiro, Século XIX. Anuario del IEHS. Suplemento 1, p. 219-233, 2007.
- ANCHIETA, José de. Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. São Paulo/Belo Horizonte: EDUSP/Itatiaia, 1988.
- BOCCARA, Guillaume. Mundos Nuevos en las Fronteras del Nuevo Mundo: Relectura de los Procesos Coloniales de Etnogénesis, Etnificación y Mestizaje en Tiempos de Globalización. Mundo Nuevo, Nuevos Mundos. 2005. Disponível em: http://nuevomundo.revues.org/426 DOI: https://doi.org/10.4000/nuevomundo.426
- . Acesso em: 17/09/2012.
- BOXER, Charles R. A Igreja e a Expansão Ibérica (1440-1470). Tradução: Maria de Lucena Barros e Sá Contreras. Lisboa: Edições 70, 1981.
- CASTELNEAU-L’ESTOILE, Charlotte de. Operários de um vinha estéril. Os jesuítas e a conversão dos índios no Brasil — 1580-1620. Tradução: Ilka Stern Cohen. Bauru-SP: Edusc, 2006.
- FAUSTO, Carlos. Fragmentos da História e Cultura Tupinambá: da etnologia como conhecimento crítico de conhecimento etno-histórico. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 381-396.
- FERGUSON, R. Brian. Blood of Leviathan: Western contact and warfare in Amazonia. American Ethnologist, v. 17, n. 2, p. 237-257, 1990. DOI: https://doi.org/10.1525/ae.1990.17.2.02a00030
- FERGUSON, R. Brian; WHITEHEAD, Neil L. (Eds.). War in the Tribal Zone. Expanding States and Indigenous Warfare. Santa Fe–New Mexico: School of American Research, 1992.
- FERNANDES, Florestan. A Organização Social dos Tupinambá. São Paulo: HUCITEC, 1989.
- FRAGOSO, João Luis Ribeiro. À Espera das Frotas: Hierarquia Social e Formas de Acumulação no Rio de Janeiro, Século XVII. Cadernos do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa em História Social, 1995.
- FREIRE, J. R. Bessa; MALHEIROS, Márcia F. Aldeamentos Indígenas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UERJ, 1997.
- HILL, Jonathan (Org.). Rethinking History and Myth. Urbana: University of Illinois Press, 1988.
- HILL, Jonathan. Contested Pasts and the Practice of Anthropology: Overview. American Anthropologist, v. 94, n. 4, p. 809-815, 1992. DOI: https://doi.org/10.1525/aa.1992.94.4.02a00020
- LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa/Rio de Janeiro: Portugália/Civilização Brasileira, 1938-1950, 10 v.
- MÄDER, M. Elisa Noronha de Sá. O Vazio, o Sertão no Imaginário da Colônia nos Séculos XVI e XVII. 1995. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995.
- MARCHANT, Alexander. Do Escambo a Escravidão. Tradução: Carlos Lacerda. 2ª ed. São Paulo/Brasília: Ed. Nacional/INL, 1980.
- MENDONÇA, Paulo Knauss de. O Rio de Janeiro da Pacificação. Rio de Janeiro: Biblioteca Carioca, 1991.
- MINTZ, Sidney W. Cultura: uma visão antropológica. Tradução: James Emanuel de Albuquerque. Tempo, v. 14, n. 28, p. 223-237, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-77042010000100010
- MONTEIRO, John. Negros da Terra: Índios e Bandeirantes Origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
- MONTEIRO, John. Tupis, Tapuias e Historiadores. Estudos de História Indígena e do Indigenismo. 2001. Tese (Livre Docência) – Departamento de Antropologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP, 2001.
- PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios Livres e Índios Escravos: os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CUNHA, M. Carneiro da (Org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 115-132.
- SCHWARTZ, Stuart. Segredos Internos. Engenhos e Escravos na Sociedade Colonial. Tradução: Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
- SERRÃO, Joaquim V. O Rio de Janeiro no Século XVI. Lisboa: Comissão Nacional das Comemorações do IV Centenário do Rio de Janeiro, 1965.
- SILVA, Joaquim Norberto de Souza. Memória Histórica e Documentada das aldeias de índios da província do Rio de Janeiro. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 62, n. 14, Rio de Janeiro, p. 110-300, 1854.
- VARNHAGEN, A. de. História Geral do Brasil Antes da sua Separação e Independência de Portugal. [1854]. 3ª ed. São Paulo: Melhoramentos, [s.d.].
- VASCONCELOS, Simão de. Crônica da Companhia de Jesus. [1663]. Petrópolis: Vozes, 1977.
- VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O Mármore e a Murta: sobre a inconstância da alma selvagem. Revista de Antropologia, v. 35, p. 21-74, 1992.
- WEBER, Max. Relações Comunitárias Étnicas. In: Economia e Sociedade. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1994, p. 267-277.
- WHITEHEAD, Neil. Ethnic Transformation and Historical Discontinuity in Native Amazonia and Guayana, 1500-1900. L’Homme, n. 126-128, p. 285-305, 1993. DOI: https://doi.org/10.3406/hom.1993.369641