A silenciosa construção de uma guerra: uma França Antártica indígena
Resumo
Em 1555, Nicolas D. Villegagnon chegou à América lusa trazendo consigo uma esquadra com o objetivo de sedimentar sua ocupação no continente. Sua estadia na Guanabara foi viabilizada pelas alianças travadas com grupos indígenas tupinambás conhecidos e apresentados como tamoios em vários corpos documentais. Os portugueses, por sua vez, encontravam-se ainda muito concentrados ao litoral norte e nordeste do continente, na Bahia, e ao longo de toda costa fizeram amizades com os grupos indígenas tupis, inimigos dos tupinambás. Assim, delineia-se o conflito que tomou conta da costa do Rio de Janeiro a partir de 1560, quando Mem de Sá é enviado para expulsar os franceses e dar conta dos indígenas que, ao aliar-se aos francos, frustravam espiritualmente e de maneira prática os planos catequéticos da Companhia de Jesus. Este artigo tem como proposta analisar a guerra tamoios a partir do cruzamento entre os relatos produzidos nos séculos XIX e XX e a documentação quinhentista.
Palavras-chave
Tamoios, França Antártica, Alteridade, Guerra Indígena
Biografia do Autor
Agnes Alencar
Historiadora e Mestre em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Referências
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