Antonio Benvenuto Cellini: a trajetória de um escultor da escravidão à liberdade. Recife/Rio de Janeiro, século XIX
Resumo
Em minha tese de doutorado, que discutiu a formação de uma associação pernambucana de artesãos, notei que alguns trabalhadores experimentaram incríveis trajetórias. Ultimamente, tenho escrito sobre algumas delas. Esse artigo apresenta ao leitor o escultor Antonio Benvenuto Cellini, que em sua infância escravizada, no interior de Pernambuco, aprendeu sua arte com sua senhora. Ao conquistar um prêmio na Exposição Provincial de 1866, ganhou dos organizadores do evento sua alforria. Em seguida, o ex-escravo assumiu o sobrenome Benvenuto Cellini – em homenagem ao renomado escultor renascentista. Livre, estudou no Recife. Na década de 1870, o governo provincial concedeu ao artista uma subvenção anual para que pudesse aperfeiçoar seu talento na Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro. Com a devida habilitação, advinda de seus estudos na Corte, Antonio Benvenuto Cellini conseguiu lecionar como mestre da oficina de entalhador do Instituto Profissional do Rio de Janeiro. Entre outros temas, a trajetória desse indivíduo permite que discutamos as tensões entre contingências conjunturais, estruturas sociais e iniciativa pessoal.
Palavras-chave
escravidão, liberdade, artes plásticas, escultura
Biografia do Autor
Marcelo Mac Cord
Doutor em História Social pela UNICAMP. Professor Adjunto da FEUFF.
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