Memórias de “bicho”
Resumo
A partir de entrevistas com oito oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro, percebemos que as memórias acerca dos tempos em que eram jovens cadetes na Escola de Formação de Oficiais são bem mais marcadas pelas experiências extracurriculares como trotes, “brincadeiras” e sobretudo pela relação individualizada entre o “veterano” (aluno do terceiro ano) e seu “bicho” (aluno do primeiro ano). Nossa hipótese é que este conjunto de práticas não previstas oficialmente mas extremamente arraigadas na cultura da corporação constituem uma das formas primordiais de interiorização de estruturas (de pensamento, valores e comportamento) que caracterizam o habitus específico deste grupo, especialmente a aprendizagem da linguagem da violência, do respeito à autoridade e à hierarquia, bem como da importância das relações pessoais em detrimento das normas universais.
Palavras-chave
polícia, sociabilidade violenta, habitus
Biografia do Autor
Marcos Alvito
Professor do Departamento de História da UFF, doutor em Antropologia Social pela USP, fez estágio pós-doutoral sobre o policiamento de torcidas de futebol na University of Leicester.
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